domingo, 3 de abril de 2016

Cuspir e partir

Uma hora ou outra sempre vem o soco
Um descuido e pronto
O que resta é cuspir o sangue que enche a boca
O corpo firme sente a pancada e reage
Teima em permanecer inerte em sua posição original (de pé)
A dor vem em instantes
Agora, o sujeito lamenta o erro
O vacilo
O chão não vai acalentá-lo
O sujeito sabe bem o gosto da queda
Mas o tombo é inevitável
Agarrando-se as cordas
No meio de toda aquela angústia com aparência de resistência
Exposto em toda sua fragilidade
O pânico acena
Aponta pra baixo
Indicando a proximidade do inferno
O seu maior desejo é a morte
Só a morte pode livrá-lo da derrota
A morte não veio
Há apenas vida e socos
Socos trocados, a vida... 

A Raiva,
Sempre amiga nos segundos instáveis,
O abençoa
Dá-lhe força e graça
A cólera,
Com muita humildade lhe estende a mão
O levanta como um amigo exemplar
O ódio,
lhe oferece ternura
O abraça e...
Depois sussurra uma ordem de ataque
A dor evapora do seu corpo como um espírito maldito
Ele parte com alegria
Vomita a esperança e o medo
Cego de fúria
Leve como uma nuvem chumbo
Que escarra raios sem verter água

Sabe que nada é divino,
maravilhoso,
sagrado ou misterioso...

As sequelas como guia
Mantendo a raiva aconchegante
Sem luto
Nem melancolia.